“Um susto…Quem me dera que o tivesse sido, apenas isso, nada mais… Quem me dera que não passasse duma mentira julgada verdade temporariamente, uma mentira obscura, profunda e podre…Oh, como eu queria que o fosse!
Houve pequenos momentos na vida que desperdicei com pensamentos distantes, pequenos momentos que foram deitados para o lixo, para quando mais quisessem ser lembrados, fossem chorados por não passarem de um vazio. Momentos que passaram despercebidos, apenas uma imagem fixa de algo desfocado ficou dentro desta coisa pesada que suportamos, nada mais do que isso..
Oh, como eu adoravava poder lembrar-te melhor! Já não aguento com tantas imagens distorcidas e redundantes…
Estou cansada da vida, esgotada de viver, tão farta de tudo…
Quero poder ouvir-te, falar-te, desabafar-te todos estes meses amargurados de saudade, quero acreditar na esperança que me ilumina o corpo e mente fatigados…
Vivo numa cela bonita, iluminada pelo meu próprio sofrimento, acalorada pelo meu próprio oxigénio saturado, nela tudo é morto, melancólico e farto…Pensamentos preversos percorrem a cela…Ouve-se um choro, um choro contínuo e constante duma criança, uma criança que nunca irá morrer, chorando da sua própria fortuna que a assombra não a ela já, mas à sombra maior que se tornou, assustada pela grandiosidade da sua sombra, pelas novas formas, pelo seu traço singular escondido entre a marcada silhueta, pensando naquele que lhe irá fazer renascer a natureza que há em si…
É assim que uma criança vê a vida, uma criança grande porém, uma adolescente sem vontade de acreditar que o é…
Olho-me no espelho e passo momentos infinitos avaliando se aquilo que aparento é mesmo real, se desfilo o que não sou, se sou uma mera Iktumi, atraiçoando os outros com o meu amor, preocupada se os outros vêm aquilo que eu vejo em mim (algo criador de auto-ódio), se…
Gostava que tudo isto possuisse um botão para quando eu estivesse como me sinto neste momento, pudesse desligar-me da vida por uns instantes…era bem porreirinho!
Abraço-te solidão, três vezes antes das refeições,quatro vezes depois, cinco e seis vezes ao deitar e acordar e umas outras tantas ao lanche.
“Oh, you’re so cold…”-Como tu és fria, solidão! Adorava poder combater estes desejos intensos de calor humano, mas eu não sou de ferro…Ninguém é, infelizmente!
Tento abraçar a vida, quando os meus braços só tocam na profundidade e vácuo da solidão, estou a perder a paciência para lutar, para amar, para viver intensamente…
Vivo num mundo, que nem sequer o meu corpo e algo meu e só meu, nem ele é para sempre…A natureza trata de nos decompor, afinal somos assim tão grandes?!
A vida são dois dias, perco um e meio presa numa cela, sonhando com a liberdade que é apenas uma ilusão de óptica, um outro vício como o álcool, o tabaco e a heroina…”